sexta-feira, 28 de janeiro de 2011


ANDRÉ AGATTE – “a política é a minha vida”

André Agatte é nascido em Santo André em 1ºde novembro de 1972. Bisneto de imigrantes italianos que vieram para o Brasil e se fixaram na região de Dracena para trabalhar na lavoura. Depois com o êxodo rural foram para região do ABC para tentar a vida, através do processo de industrialização. Ali seus pais, os saudosos Nestor e Iraci se conheceram.Dessa união nasceram André, Cristiane e Juliana. Neto e filho de metalúrgicos, seu pai trabalhou na Villares, inclusive junto com o presidente Lula.Assim o menino cresceu em meio às greves da Vila Euclides.”A minha infância foi muito bem vivida, jogando bola no campinho de futebol da esquina. Foi uma vida sempre muito modesta, mas ao mesmo tempo meus pais sempre se esforçaram para nos dar uma boa formação”.
Para Araraquara Agatte veio com a família no fim da década de 70 quando a Villares foi transferida.Tinha sete anos. “Quando mudei para cá fomos morar na Alameda onde a parte baixa era só terra. Vivemos com todas as dificuldades de uma família de classe média baixa,mas tenho ótimas recordações”, conta ele que estudou no Sesi, no Leia,Colégio Objetivo.” Cursou por dois anos biologia na Universidade Federal de São Carlos, mas não se formou,pois como professor, envolvido com as aulas de inglês,português e literatura suas grandes paixões. “Na época meu pai havia aberto um pequeno comércio na cidade. Foi um período que minha mãe ficou doente e acabei voltando para Araraquara, pois havia morado durante um certo período em São Paulo no início da década de 90. Posteriormente fui para São Carlos e acabei retornando para Araraquara onde fiz o curso de Letras na Unesp”.

A política

André sempre foi engajado. Sempre teve uma orientação de esquerda e sempre gostou muito do Lula. Para ele a campanha de 89 foi muito forte e envolveu muita emoção. “Sempre gostei de observar a política,mas comecei a me engajar, pois comecei a perceber que a política é o único instrumento que a gente tem para mudar a sociedade e quanto mais pessoas honestas e de bem a ocuparem melhor para a política”, conta ele que participou dos cara pintadas, mas que o engajamento significativo foi em São Carlos com as lideranças estudantis.Ali conheceu o casal Rosa e Zé Luiz que foi assassinado e continua sem ser desvendado. “Com eles sempre conversava sobre a necessidade de uma transformação”.
Em Araraquara, em 98, Agatte passou a ser uma liderança e uma referência e uma liderança para os alunos da universidade e a ter convivência com vários professores bastante engajados. Conheceu várias figuras ligadas ao PT,Partido dos Trabalhadores, e trabalhos que tiveram certa repercussão no meio acadêmico chegando a participar de vários congressos na USP e Unicamp. “ Chegamos a fundar uma Associação Nacional de Pesquisa e Graduação, cujo objetivo era conscientizar, principalmente os alunos de universidades particulares sobre a importancia da universidade investir em pesquisa e no conhecimento humano”, conta ele que durante esses congressos ia conhecendo mais gente ligada ao PT de Araraquara, até que em 2000 já filiado ao PT foi convidado por Edna Martins para ajudar em sua campanha de vereadora que foi bem sucedida.
Agatte chegou ser chefe de gabinete de Edna durante boa parte do tempo em que foi vereador. Coordenou algumas eleições na cidade e começou despontar como uma pessoa que trabalhava muito forte na questão partidária, pois entendia o partido como um espaço fundamental para discussão e elaboração política, uma entidade que tem que atuar junto à sociedade. Trabalhou também com o deputado João Paulo.

Um cara tímido

André atualmente é casado com Gabriela Palombo e é pai de Julio André de 12 anos, tem um jeito muito sério de ser, muitas vezes passa por antipático e bravo, mas tudo pode ser creditado a timidez. “Ao mesmo tempo que tive facilidade de lidar com o público”, diz ele tentando se explicar acrescentando que fica absolutamente compenetrado e focado algumas vezes que acaba assumindo uma feição de seriedade, mas que é uma observação que as pessoas sempre fazem.
Ele se considera um cidadão simples que não tem medo de encarar uma boa briga, um bom embate politico se perceber que vale à pena e é amante da boa música que vai da moda de viola ao jazz. É um amante da literatura, da poesia.Uma figura que gosta de ler e de aprender.
Os pais de André são falecidos e lhe deixaram como lição a dignidade e a honestidade, pois lutaram muito para garantir e fazer um futuro melhor para seus filhos. “Meu pai foi um grande batalhador, um vencedor e uma grande liderança no meio dele chegando a ser supervisor na Villares. Minha mãe era uma pessoa extremamente harmoniosa em todos os sentidos, a mãe coruja, a galinha choca que colocava os filhos debaixo da asa para que nada acontecesse”.
Uma das coisas mais difíceis para Agatte foi assistir a mãe sendo levada aos poucos por uma grave doença e vê-la até o fim tentando preservar os filhos diante de toda dor que estava sentindo. ” Ela foi muito guerreira e não desanimou em nenhum momento. Ela me deixou uma grande lição, a de não reclamar da vida se temos saúde que é a base para a gente lutar pela vida. Ela também me deixou uma grande lição de amor. Meu filho nasceu em 98 e minha mãe nutriu por ele durante o curto período de tempo que conseguiu conviver com ele um amor que certamente deu forças a ela pra viver um pouco mais do lado do neto e também a lição de perseverança, pois ela não se rendeu, mas a doença acabou vencendo”, conta emocionado.

O professor

Agatte ainda ministra aulas, esporádicas, mas ainda é professor. Hoje ele representa o deputado Vicente Cândido em toda a região de Ribeirão Preto, tendo inclusive coordenado a campanha do mesmo em Araraquara. “ Sou muito ligado a ele,principalmente pelo trabalho desenvolvido na área da cultura onde a gente articula muitas organizações,entidades e movimentos sociais onde tentamos ajudar e fomentar para que essas entidades e organizações possam desenvolver projetos sociais e atuar muito na área de inclusão social levando oficinas para crianças mais carentes; tem também um trabalho muito forte de combate ao racismo.Acho que é primoroso o trabalho que ele faz,pois foi, talvez, o primeiro deputado que levou para agenda politica da Assembléia Legislativa a questão racial,enfim é um leque de trabalho muito ampla e eu represento isso na macro região de Ribeirão Preto que envolvem 84 cidades onde faço o elo dessas organizações dos municípios com o mandato”.

Fundart

Durante sua gestão na Fundart houve a contribuição para a promoção da transparência dos investimentos públicos no que se referia ao orçamento da Fundação,pois dialogava sempre com o conselho municipal de Cultura que foi instalado, além de ouvir sugestões.”Foi uma experiência muito enriquecedora, pois conseguimos promover eventos a custo zero e abrir o Teatro Municipal para as camadas mais populares da cidade, o que antes era muito restrito e o projeto das oficinas culturais que foi a grande menina dos olhos da área da cultura, pois se conseguiu levar cultura para os bairros, para a periferia, para as crianças que nunca haviam tido acesso à cultura e isso deu frutos maravilhosos, pois hoje se tem vários ex-alunos de oficinas rodando o mundo e que encontraram na cultura uma profissão”.
Para Agatte, Araraquara é uma cidade de muitos talentos em várias áreas como a da cultura e do esporte e ai é obrigação do poder público investir em políticas para você garimpar, achar esse pessoal que muitas vezes vítima e presa fácil do tráfico, da criminalidade. É buscar esse pessoal dessas áreas de risco, pois acredito que se tivermos uma política forte de cultura de inclusão a gente consegue trazer muitos talentos e inclusive encaminhar esse pessoal para uma profissão. Acho que o Brasil ainda movimenta muito pouco na área da cultura que deve ser vista como um possibilidade concreta de carreira profissional principalmente das crianças. Ainda estamos nesse processo de transformação e isso vale para o esporte também”.

Do futuro

Agatte atua hoje como presidente municipal de política. Foi eleito em 2007 e reeleito em 2009.Seu mandato frente à presidência de PT vai até 2013. Ele conta que quer voltar a estudar e retomar projetos que ficaram para trás. “ Espero viver para também ter tranquilidade e boas possibilidade de dar uma boa educação para meu filho, vê-lo crescer, evoluir junto com a família e espero viver para ver um Brasil e um mundo sem injustiças, sem desigualdades, sem exclusão. Espero viver para ver a sociedade brasileira e mundial priorizando os valores humanos e não os valores materiais, pois hoje vivemos uma grande inversão de valores onde as pessoas valem pelo que elas têm e não pelo que elas são, pelo que significam e acredito que temos que caminhar rumo a uma sociedade sustentável, o que significa abrir mão do valor material e priorizar mais o valor humano, ambiental, a natureza. Espero viver para ver isso, ou seja, ver esse processo numa sociedade cada vez mais cidadã, mais justa e acolhedora”.
Perguntar sobre o problema do PT com o episódio do Mensalão é algo quase obrigatório. Ele explica que guardadas as devidas pretensões o PT e algumas de suas lideranças erraram, mas acho que não foi o maior caso de corrupção no país. “ Foi um engodo, uma mentira que tentaram contar. Os erros de 2005 foram erros provenientes de um sistema político eleitoral falido onde a legislação é bem distante da realidade no que diz respeito as campanhas eleitorais, políticas, por isso não tenho dúvida de que o pais precisa de uma reforma política”.
(Publicado em 25 de outubro de 2010)

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