José Marino o pracinha da FEB: um dos últimos heróis
A FEB, Força Expedicionária Brasileira, participou ativamente das operações da Segunda Guerra Mundial, no Teatro do Mediterrâneo, de julho de 1944 a maio de 1945, na Campanha da Itália. É notório o lema adotado pela FEB, “A cobra está fumando”, em alusão ao que se dizia à época que era “mais fácil uma cobra fumar do que o Brasil entrar na guerra”. O efetivo era de 25.334 homens. Um desses bravos soldados foi José Marino, que mora em Araraquara desde 1948. Filho de Ricardo Marino e Teresa Clemente, José Marino nasceu no dia 8 de março de 1920 em Pedreiros, mas foi criado em Santa Rita do Passo Quatro. Tinha 24 anos quando foi para a guerra.
Aposentou-se como caminhoneiro, profissão que exerceu durante mais de 20 anos e também como subtenente. A saudosa esposa Laura, Marino conheceu em Santa Rita do Passa Quatro. Dessa união nasceu a única filha, a farmacêutica Maria do Carmo, casada com o médico Volney Schiavon. Hoje, Marino realiza várias palestras nas escolas a respeito de sua participação na guerra, mas quando a mesma terminou, o pracinha conta que saiu do Exército como um saco de lixo. Assim que tocou a alvorada, um comandante que ele não conhecia disse que a partir daquele instante estavam dispensados e que não havia café da manhã por falta de verba. “Dessa maneira, eu sai do Exército”, lamenta não a sua ida à guerra, mas a sua volta. Mas ele deu a volta por cima e não foi somente da guerra que saiu vitorioso, venceu os traumas da guerra depois de um tratamento, queimaduras no pulmão provocadas pelo intenso frio europeu e um câncer no intestino. É um herói em todos os sentidos.
239 dias de inferno
Marino nos conta que foi da classe de 1.920 e em 1.922 foi sorteado para servir o Exército em Pindamonhagaba. “Quando os alemães, em 1943, afundaram os navios brasileiros e seu batalhão deslocou para Caraguatatuba, São Sebastião e Ubatuba, fui para São Sebastião e na terça- feira de carnaval de 1943 foi por mim pressionado o primeiro Quinta Coluna, que hoje chamamos de espião.
Fiquei um ano em São Sebastião. Não tínhamos cama e nem colchão. Dormíamos no chão”. Passado um ano retornou para Pindamonhagaba e de lá foi para Lorena, onde foi convocado para FEB, Força Expedicionária Brasileira, embarcando para o Rio de Janeiro onde fez todas as instruções preparativas e de lá rumo à Itália onde, segundo ele, foram 239 dias de inferno, menos 4 dias. “Esses 4 dias foram em Torre de Noronha, após o término de um combate, o comandante Marino disse que iria para Florença onde passaria 4 dias. No hotel, em meio a ingleses e americanos, foi recebido como um herói. Estava sujo, barbudo, cabeludo, há 90 dias sem trocar de roupa, a cueca e as meias. Quase o carregaram no colo para um banho, depois para o refeitório. Quando foi para o quarto, pela primeira vez na vida se deparou com um colchão de espuma e um cobertor enorme. Desmaiou. “No outro dia teve até música ao vivo, onde embora muito triste e cansado, dancei umas duas músicas. Foram 4 dias de paraíso no meio dos 239 de inferno”.
Para ele, que sempre ia à frente com o capitão, pois falava italiano, vários foram os momentos que julgou como verdadeiros milagres, pois muitas vezes o combate foi violento. “A gente mata para não morrer. Mata para salvar a vida do companheiro, que foi o que aconteceu comigo”. Em muitas ocasiões teve a vida salva devido à sua intuição, como a vez em que estando de guarda numa espécie de paiol chegou um pelotão de alemães. “Lembrei de Deus, deitei no chão, pois se fico de pé ou de joelhos me transformaria em um alvo. Apontei a metralhadora em direção à entrada da porta, respirei fundo. Nisso um alemão vira a maçaneta da porta, mas não abre. Considero um grande milagre ele ter ido embora. Com isso, recuamos até o alto do morro, mas cruzamos com os alemães. Foram golpes de mão. A gente matou os deles, mataram os nossos. Foi muito triste”.
De uma outra vez, ao se oferecer para ficar de guarda no lugar de um amigo que estava muito cansado, um alemão o descobriu. Deu três tiros, sendo que o terceiro pegou na aba de seu capacete. Enfiei cabeça para dentro do buraco da trincheira, peguei o rádio e avisei o comandante que sugeriu, pois não estava machucado, que saísse somente à noite, pois se tentasse sair naquele momento seria morto. “E assim fiz. Sobrevivi e pude partir para Monte Castelo”.
Mas uma das alegrias foi depois de um violento combate, ser chamado por um casal de velhinhos e um menino que moravam num porão para compartilhar um prato de macarronada e vinho no dia de Natal. “Inesquecível”. Não sabe como conseguiu forças e coragem para remover os cadáveres de companheiros mortos na trincheira, limpar as peças ensanguentadas e assumir o comando do resto do grupo. Marino chegou a ser ferido, mas recuperado voltou para o front até o momento em que os alemães foram rendidos. Por seus feitos e coragem, Marino tem vários diplomas e medalhas, mas guarda com carinho uma carta com uma citação de agradecimento do comandante norte-americano Mark Clark, para quem certa vez se apresentou, pois era exímio atirador. “Também tenho, acreditem, um Diploma do Exército italiano”.
Fiquei um ano em São Sebastião. Não tínhamos cama e nem colchão. Dormíamos no chão”. Passado um ano retornou para Pindamonhagaba e de lá foi para Lorena, onde foi convocado para FEB, Força Expedicionária Brasileira, embarcando para o Rio de Janeiro onde fez todas as instruções preparativas e de lá rumo à Itália onde, segundo ele, foram 239 dias de inferno, menos 4 dias. “Esses 4 dias foram em Torre de Noronha, após o término de um combate, o comandante Marino disse que iria para Florença onde passaria 4 dias. No hotel, em meio a ingleses e americanos, foi recebido como um herói. Estava sujo, barbudo, cabeludo, há 90 dias sem trocar de roupa, a cueca e as meias. Quase o carregaram no colo para um banho, depois para o refeitório. Quando foi para o quarto, pela primeira vez na vida se deparou com um colchão de espuma e um cobertor enorme. Desmaiou. “No outro dia teve até música ao vivo, onde embora muito triste e cansado, dancei umas duas músicas. Foram 4 dias de paraíso no meio dos 239 de inferno”.
Para ele, que sempre ia à frente com o capitão, pois falava italiano, vários foram os momentos que julgou como verdadeiros milagres, pois muitas vezes o combate foi violento. “A gente mata para não morrer. Mata para salvar a vida do companheiro, que foi o que aconteceu comigo”. Em muitas ocasiões teve a vida salva devido à sua intuição, como a vez em que estando de guarda numa espécie de paiol chegou um pelotão de alemães. “Lembrei de Deus, deitei no chão, pois se fico de pé ou de joelhos me transformaria em um alvo. Apontei a metralhadora em direção à entrada da porta, respirei fundo. Nisso um alemão vira a maçaneta da porta, mas não abre. Considero um grande milagre ele ter ido embora. Com isso, recuamos até o alto do morro, mas cruzamos com os alemães. Foram golpes de mão. A gente matou os deles, mataram os nossos. Foi muito triste”.
De uma outra vez, ao se oferecer para ficar de guarda no lugar de um amigo que estava muito cansado, um alemão o descobriu. Deu três tiros, sendo que o terceiro pegou na aba de seu capacete. Enfiei cabeça para dentro do buraco da trincheira, peguei o rádio e avisei o comandante que sugeriu, pois não estava machucado, que saísse somente à noite, pois se tentasse sair naquele momento seria morto. “E assim fiz. Sobrevivi e pude partir para Monte Castelo”.
Mas uma das alegrias foi depois de um violento combate, ser chamado por um casal de velhinhos e um menino que moravam num porão para compartilhar um prato de macarronada e vinho no dia de Natal. “Inesquecível”. Não sabe como conseguiu forças e coragem para remover os cadáveres de companheiros mortos na trincheira, limpar as peças ensanguentadas e assumir o comando do resto do grupo. Marino chegou a ser ferido, mas recuperado voltou para o front até o momento em que os alemães foram rendidos. Por seus feitos e coragem, Marino tem vários diplomas e medalhas, mas guarda com carinho uma carta com uma citação de agradecimento do comandante norte-americano Mark Clark, para quem certa vez se apresentou, pois era exímio atirador. “Também tenho, acreditem, um Diploma do Exército italiano”.
Herói sem emprego
Depois que terminou a II Guerra Mundial, o ex-combatente José Marino conta que foram sim chamados de heróis, mas passada a euforia, ele, por exemplo, depois de ter voltado para Santa Rita do Passo Quatro, sua cidade natal, e de ser aclamado pela população, pois havia decretado feriado municipal, saiu de cena como um saco de lixo, posto na rua, sem um tostão, pois havia feito um inventário antes de ir para a guerra e o dinheiro ficou retido no Banco do Brasil e o que tinha na Itália havia sido recolhido para ser transformado de lira em cruzeiro, não recebeu, pois veio embora antes.
Disse ao prefeito de Santa Rita que estava sem emprego. Ele pediu calma. “As quatro vagas disponíveis foram dadas a cabos eleitorais e eu não consegui emprego. Com isso, trabalhei quase um ano de graça numa oficina para poder tirar minha carteira de habilitação e aprender o ofício de mecânico. Tinha o direito, por lei, de comprar um caminhão a preço de tabela pelo Banco do Brasil. Fiz um requerimento para a Ford, outro para o Banco do Brasil e um para o Ministério da Guerra, este último me negou.
Quando vim para Araraquara fiz um requerimento para casa própria na Caixa Econômica. Para resumir quem acabou financiando a casa para mim foi o Michetti”, conta. E recentemente queriam que Marino fosse para Ribeirão para provar que estava vivo. “Falei da lei dos idosos que deveria estar na gaveta e de umas coisinhas a mais sobre não terem tantos combatentes de guerra. Me liberaram. Mas até hoje somos discriminados. Não tenho medo de falar”, desafia o herói que recebeu um diploma de atleta pela primeira e maior corrida da história do Brasil, em São João del Rey. “Foi em 1943. Foram 20 quilômetros carregando a tocha simbólica”.
Disse ao prefeito de Santa Rita que estava sem emprego. Ele pediu calma. “As quatro vagas disponíveis foram dadas a cabos eleitorais e eu não consegui emprego. Com isso, trabalhei quase um ano de graça numa oficina para poder tirar minha carteira de habilitação e aprender o ofício de mecânico. Tinha o direito, por lei, de comprar um caminhão a preço de tabela pelo Banco do Brasil. Fiz um requerimento para a Ford, outro para o Banco do Brasil e um para o Ministério da Guerra, este último me negou.
Quando vim para Araraquara fiz um requerimento para casa própria na Caixa Econômica. Para resumir quem acabou financiando a casa para mim foi o Michetti”, conta. E recentemente queriam que Marino fosse para Ribeirão para provar que estava vivo. “Falei da lei dos idosos que deveria estar na gaveta e de umas coisinhas a mais sobre não terem tantos combatentes de guerra. Me liberaram. Mas até hoje somos discriminados. Não tenho medo de falar”, desafia o herói que recebeu um diploma de atleta pela primeira e maior corrida da história do Brasil, em São João del Rey. “Foi em 1943. Foram 20 quilômetros carregando a tocha simbólica”.
Conheci ontem o senhor José Marino,e fiquei muito satisfeita de conhecer uma pessoa histórica, como ele.
ResponderExcluirOlá. Me chamo Julio e coleciono itens da Força Expedicionária Brasileira. Tenho interesse em comprar os itens do Sr José Marino, se por acaso a senhora tiver o contato dele ou de alguém da família dele. Meu site é museuvirtualfeb.blogspot.com.br e meu email juliozary1997@gmail.com
ResponderExcluirObrigado
Olá. Me chamo Julio e coleciono itens da Força Expedicionária Brasileira. Tenho interesse em comprar os itens do Sr José Marino, se por acaso a senhora tiver o contato dele ou de alguém da família dele. Meu site é museuvirtualfeb.blogspot.com.br e meu email juliozary1997@gmail.com
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