Edna Portari
Uma luz na cidade
Quando Edna Maria Portari nasceu em Taquaratinga, em 17de junho de 1947, seu pai, o italiano Francisco Portari, contava quase 70 anos, e a caçula de sete irmãos era para ele a vida e para a mãe, Maria Pilar Navascues Portari, a raspa do tacho. Com isso sempre deram a ela liberdade para tudo que quisesse fazer, embora tivesse que assumir as consequências.
Para que os filhos tivessem uma instrução melhor, o pai de Edna, que era contramestre de obras, mudou-se de Taquaritinga para Araraquara. Para ele o tesouro que poderia deixar para os filhos era um diploma. Assim todos os filhos fizeram universidade. “Nós éramos em sete irmãos (Jo, Pedro, Ricardo, Deize, Dalva, Diva, Edna) dois já são falecidos. O Pedro que cantava com o professor Lyzanias ainda mantém o lírico, mas o filho dele, o Fernando, já é um tenor universal; o saudoso Ricardo, tinha uma voz belíssima, era o seresteiro; a mamãe tinha uma voz de soprano que era a coisa a mais linda, e quando ela lavava roupa era a coisa mais gostosa ficar do lado do tanque ou mesmo na escada próxima ouvindo ela cantar as modinhas das época. Tanto que cheguei a montar um espetáculo com modinhas pelas quais tenho verdadeira loucura. Já a Deise (falecida) tinha uma voz, um soprano que não se imaginava aquela menina tímida, vinda de Taquaritinga, quando cantava no Orfeon a voz era lúcida, limpa e a Diva que foi para a Escola de Belas Artes, localizado no Largo da Câmara, sendo colega de Paulo Mascia”.
Quando garota, a cidade era para Edna e os irmãos uma cidade grande. Havia um teatro municipal belíssimo onde sempre ia assistir as óperas com o pai. “Tínhamos o TECA, o Wallace (Leal) era uma coisa doce, doce, doce. Foi a primeira vez que assisti ‘Pluft, o fantasminha’ e o encanto de como fazer o belo permanece até hoje”.
O grande encontro
O encontro de Edna com Luiz Antônio Martinez Corrêa foi a coisa mais gostosa do mundo, segundo ela, pois na verdade ele nunca conseguiu ir conversar diretamente com a pessoa que ele queria. Assim, mandava sempre alguém. Um dia Edna recebe um telefone de Eduardo Montanari a convidando para participar de ´O Casamento do Pequeno Burguês’ no TUA, Teatro Universitário de Araraquara. Como era estudante de Letras, pensou que se tratava de um grupo de estudo, de traduções e aceitou. Mas ele logo ele adiantou que era para entrar em cena e que iriam participar do festival de teatro amador de São Carlos. Imediatamente Edna reformulou a resposta e disse não, que nem morta. Com a negativa, o Luiz Antônio Martinez Corrêa foi diretamente falar com a estudante e explicou a ela que o papel era pequeno e o que personagem que iria interpretar, o da mãe, era coisa rápida. Praticamente entrar e sair. Diante disso Edna aceitou. “Imagina, imagina, imagina se o personagem só entrava e saia de cena. Isso jamais ocorreu”, diz ela rindo.
Se lembra com saudade do Bar do Pernambuco, local onde os grupos, não só do TUA, se reuniam. Ali, ela e Luiz Antonio Martinez Corrêa tomavam guaraná. O resto cerveja e pinga.
Ela se recorda com tristeza quando derrubaram o Teatro Municipal. Conta que viu o que é matar uma pessoa, se referindo ao amigo Wallace Leal, responsável pelo grupo que havia feito filme e sido escolhido para ir embora com Cacilda Becker, tal o profissionalismo.
Edna viveu muitos momentos: época da repressão e seus censores; o de utilizar a droga para ampliar o poder de criação, o convívio com muitos artistas como Kate Hansen, Chico Buarque, as apresentações em São Paulo, primeiro no Porão, depois no palco do Oficina, o de morar num apartamento onde todos andavam nus, sem falsos moralismos, e acima de tudo considerar a família absolutamente sagrada.
Edna
Ela é uma das pessoas que ajudou a construir a história do teatro em Araraquara. Estudiosa do circo-teatro desde a juventude, realizou diversos espetáculos ao longo de sua trajetória, como a “A Raiz Maravilhosa”, com o grupo Luz na Cidade.
A produtora e diretora é uma profunda conhecedora da obra teórica e dramatúrgica de Bertoltd Brecht, tendo montagens como “O casamento do pequeno burguês”. Atriz, participou do grupo Pão e Circo, dirigido por Luiz Antônio quando o mesmo foi criado.
É professora de teatro, de teoria do teatro e de educação artística. Trabalhou no Colégio Progresso, Oficinas Culturais Municipais de Araraquara, Oficina Cultural Lélia Abramo, Projeto Técnico- Ator (SENAC-PMA), SESC . “Ser Edna Portari é uma responsabilidade muito grande, pois de repente ela tem muito receio de tudo que faz para com que as pessoas assistam, tenham referências, saibam o que estou fazendo, pois eu primo pela beleza, não por essa estética que existe, mas pela beleza do que um texto de teatro pode lhe passar. Sempre quis estar ‘out’, atrás da cortina. Gosto muito de estar presente quando estão precisando”, diz ela que considera obra de arte aquilo registra alguma coisa universal.
Mulher coragem
Quando Edna trabalhou no RPM, Recolhimento Provisório de Menores, antiga Febem e hoje Fundação Casa, teve a coragem de denunciar a forma violenta como os meninos eram tratados. Isso lhe custou o emprego, mas ela seguiu em frente. Ali foram oito anos, onde desenvolveu inúmeros cursos graças a Tide Setúbal, esposa de Olavo Setúbal.
Edna trabalhou em vários espetáculos do amigo e chegou a ser substituída por Marieta Severo, em início de carreira, numa das peças ‘puxada’ por Luiz Martinez.
Nos momentos em que sentia saudades de casa, o amigo Luiz Antonio Martinez Corrêa lhe dava colo e dizia para que ficassem bem juntinhos, pois também estava saudoso. Ela era uma das únicas que entendia a cabeça do amigo.
A perda do amigo brutalmente assassinado foi um duro golpe. Em Araraquara ela, junto com outro amigo do jornal O Imparcial, o atual diretor José A C Silva, passaram a noite e parte da madrugada fazendo uma reportagem homenageando o amigo em comum. “Fizemos uma página belíssima com fotos que cobriam da infância à idade adulta de Luiz recortadas, picotadas. Do nascimento à morte. Cópias foram levadas também para o Rio de Janeiro, onde Luiz estava morando”.
A missa de sétimo dia teve a participação da cantora Suely Vargas e de Didinho (Luiz Arnaldo Haddad), que também era da turma e, que, segundo Edna, tem um dom maravilhoso.
Foi uma batalha para que pelo menos a Casa da Cultura tivesse o nome de Luiz Antônio Martinez Corrêa. Para que isso acontecesse ajudas valiosas como a de Leia Zamprone e de Vanildo Trindade, na época vereador levou a questão. Deu certo, mas tudo já com um trabalho que está existindo. Com tudo isso nasceu um projeto, o A-PAU de ARARA, onde se discutia política cultural. Era 1989.
O interessante é que sempre que chegava o aniversário do Luiz (Martinez Corrêa) a Casa da Cultura era fechada para uma reforma. Com isso, o grupo sempre fazia as atividades nas praças. Certa vez, o Edson Vargas foi levado para o Jardim Imperador, que só tinha uma rua, onde cantou Brecht e o grupo formado por Edna no Colégio Progresso, o Santo Antônio Eu, que satirizava o ‘Santo Antonio e a vaca’. “Abrimos uma Semana lá no Cecap, também nos apresentamos na frente da Casa da Cultura; a banca espírita era desmontada montávamos um palco. O Zé (Celso) uma vez veio tocar piano ali. A deixa para começar a tocar era quando soasse a sirene do meio-dia, da fábrica Lupo. Na praça. Imagina que loucura. Fizemos, fizemos e fizemos. Lutamos, lutamos e lutamos e tudo era feito marginalmente”.
Ela diz que o cenário mudou quando Edinho Silva ganhou as eleições e criou a Secretaria Municipal de Cultura.
Mas ela não se esquece de gente como Lauro Monteiro, Ivo Dall’Acqua Jr. Que, como presidente da Fundart, colocou a Semana Luiz Antonio no calendário oficial do município, de Marcelo Barbieri, de Gilsamara Moura, Euzania Andrade, Eloísa Michetti, Erlene Capaldo, Maria Lúcia Dinardi, Tista, entre tantos outros.
A Semana que hoje chega a sua 22ª edição foi entregue sob a responsabilidade de Jorge Okada. “A Semana chegou a ter eventos de apenas um dia, mas não morreu. Nunca deixou de ser feita. É o nascimento dele aqui na terra onde ele nasceu. Já o nascimento real dele, espiritual, é quando o Zé (Celso) presta uma homenagem para ele em São Paulo nos dias 23 e 24 de junho”.
Uma luz na cidade
Quando Edna Maria Portari nasceu em Taquaratinga, em 17de junho de 1947, seu pai, o italiano Francisco Portari, contava quase 70 anos, e a caçula de sete irmãos era para ele a vida e para a mãe, Maria Pilar Navascues Portari, a raspa do tacho. Com isso sempre deram a ela liberdade para tudo que quisesse fazer, embora tivesse que assumir as consequências.
Para que os filhos tivessem uma instrução melhor, o pai de Edna, que era contramestre de obras, mudou-se de Taquaritinga para Araraquara. Para ele o tesouro que poderia deixar para os filhos era um diploma. Assim todos os filhos fizeram universidade. “Nós éramos em sete irmãos (Jo, Pedro, Ricardo, Deize, Dalva, Diva, Edna) dois já são falecidos. O Pedro que cantava com o professor Lyzanias ainda mantém o lírico, mas o filho dele, o Fernando, já é um tenor universal; o saudoso Ricardo, tinha uma voz belíssima, era o seresteiro; a mamãe tinha uma voz de soprano que era a coisa a mais linda, e quando ela lavava roupa era a coisa mais gostosa ficar do lado do tanque ou mesmo na escada próxima ouvindo ela cantar as modinhas das época. Tanto que cheguei a montar um espetáculo com modinhas pelas quais tenho verdadeira loucura. Já a Deise (falecida) tinha uma voz, um soprano que não se imaginava aquela menina tímida, vinda de Taquaritinga, quando cantava no Orfeon a voz era lúcida, limpa e a Diva que foi para a Escola de Belas Artes, localizado no Largo da Câmara, sendo colega de Paulo Mascia”.
Quando garota, a cidade era para Edna e os irmãos uma cidade grande. Havia um teatro municipal belíssimo onde sempre ia assistir as óperas com o pai. “Tínhamos o TECA, o Wallace (Leal) era uma coisa doce, doce, doce. Foi a primeira vez que assisti ‘Pluft, o fantasminha’ e o encanto de como fazer o belo permanece até hoje”.
O grande encontro
O encontro de Edna com Luiz Antônio Martinez Corrêa foi a coisa mais gostosa do mundo, segundo ela, pois na verdade ele nunca conseguiu ir conversar diretamente com a pessoa que ele queria. Assim, mandava sempre alguém. Um dia Edna recebe um telefone de Eduardo Montanari a convidando para participar de ´O Casamento do Pequeno Burguês’ no TUA, Teatro Universitário de Araraquara. Como era estudante de Letras, pensou que se tratava de um grupo de estudo, de traduções e aceitou. Mas ele logo ele adiantou que era para entrar em cena e que iriam participar do festival de teatro amador de São Carlos. Imediatamente Edna reformulou a resposta e disse não, que nem morta. Com a negativa, o Luiz Antônio Martinez Corrêa foi diretamente falar com a estudante e explicou a ela que o papel era pequeno e o que personagem que iria interpretar, o da mãe, era coisa rápida. Praticamente entrar e sair. Diante disso Edna aceitou. “Imagina, imagina, imagina se o personagem só entrava e saia de cena. Isso jamais ocorreu”, diz ela rindo.
Se lembra com saudade do Bar do Pernambuco, local onde os grupos, não só do TUA, se reuniam. Ali, ela e Luiz Antonio Martinez Corrêa tomavam guaraná. O resto cerveja e pinga.
Ela se recorda com tristeza quando derrubaram o Teatro Municipal. Conta que viu o que é matar uma pessoa, se referindo ao amigo Wallace Leal, responsável pelo grupo que havia feito filme e sido escolhido para ir embora com Cacilda Becker, tal o profissionalismo.
Edna viveu muitos momentos: época da repressão e seus censores; o de utilizar a droga para ampliar o poder de criação, o convívio com muitos artistas como Kate Hansen, Chico Buarque, as apresentações em São Paulo, primeiro no Porão, depois no palco do Oficina, o de morar num apartamento onde todos andavam nus, sem falsos moralismos, e acima de tudo considerar a família absolutamente sagrada.
Edna
Ela é uma das pessoas que ajudou a construir a história do teatro em Araraquara. Estudiosa do circo-teatro desde a juventude, realizou diversos espetáculos ao longo de sua trajetória, como a “A Raiz Maravilhosa”, com o grupo Luz na Cidade.
A produtora e diretora é uma profunda conhecedora da obra teórica e dramatúrgica de Bertoltd Brecht, tendo montagens como “O casamento do pequeno burguês”. Atriz, participou do grupo Pão e Circo, dirigido por Luiz Antônio quando o mesmo foi criado.
É professora de teatro, de teoria do teatro e de educação artística. Trabalhou no Colégio Progresso, Oficinas Culturais Municipais de Araraquara, Oficina Cultural Lélia Abramo, Projeto Técnico- Ator (SENAC-PMA), SESC . “Ser Edna Portari é uma responsabilidade muito grande, pois de repente ela tem muito receio de tudo que faz para com que as pessoas assistam, tenham referências, saibam o que estou fazendo, pois eu primo pela beleza, não por essa estética que existe, mas pela beleza do que um texto de teatro pode lhe passar. Sempre quis estar ‘out’, atrás da cortina. Gosto muito de estar presente quando estão precisando”, diz ela que considera obra de arte aquilo registra alguma coisa universal.
Mulher coragem
Quando Edna trabalhou no RPM, Recolhimento Provisório de Menores, antiga Febem e hoje Fundação Casa, teve a coragem de denunciar a forma violenta como os meninos eram tratados. Isso lhe custou o emprego, mas ela seguiu em frente. Ali foram oito anos, onde desenvolveu inúmeros cursos graças a Tide Setúbal, esposa de Olavo Setúbal.
Edna trabalhou em vários espetáculos do amigo e chegou a ser substituída por Marieta Severo, em início de carreira, numa das peças ‘puxada’ por Luiz Martinez.
Nos momentos em que sentia saudades de casa, o amigo Luiz Antonio Martinez Corrêa lhe dava colo e dizia para que ficassem bem juntinhos, pois também estava saudoso. Ela era uma das únicas que entendia a cabeça do amigo.
A perda do amigo brutalmente assassinado foi um duro golpe. Em Araraquara ela, junto com outro amigo do jornal O Imparcial, o atual diretor José A C Silva, passaram a noite e parte da madrugada fazendo uma reportagem homenageando o amigo em comum. “Fizemos uma página belíssima com fotos que cobriam da infância à idade adulta de Luiz recortadas, picotadas. Do nascimento à morte. Cópias foram levadas também para o Rio de Janeiro, onde Luiz estava morando”.
A missa de sétimo dia teve a participação da cantora Suely Vargas e de Didinho (Luiz Arnaldo Haddad), que também era da turma e, que, segundo Edna, tem um dom maravilhoso.
Foi uma batalha para que pelo menos a Casa da Cultura tivesse o nome de Luiz Antônio Martinez Corrêa. Para que isso acontecesse ajudas valiosas como a de Leia Zamprone e de Vanildo Trindade, na época vereador levou a questão. Deu certo, mas tudo já com um trabalho que está existindo. Com tudo isso nasceu um projeto, o A-PAU de ARARA, onde se discutia política cultural. Era 1989.
O interessante é que sempre que chegava o aniversário do Luiz (Martinez Corrêa) a Casa da Cultura era fechada para uma reforma. Com isso, o grupo sempre fazia as atividades nas praças. Certa vez, o Edson Vargas foi levado para o Jardim Imperador, que só tinha uma rua, onde cantou Brecht e o grupo formado por Edna no Colégio Progresso, o Santo Antônio Eu, que satirizava o ‘Santo Antonio e a vaca’. “Abrimos uma Semana lá no Cecap, também nos apresentamos na frente da Casa da Cultura; a banca espírita era desmontada montávamos um palco. O Zé (Celso) uma vez veio tocar piano ali. A deixa para começar a tocar era quando soasse a sirene do meio-dia, da fábrica Lupo. Na praça. Imagina que loucura. Fizemos, fizemos e fizemos. Lutamos, lutamos e lutamos e tudo era feito marginalmente”.
Ela diz que o cenário mudou quando Edinho Silva ganhou as eleições e criou a Secretaria Municipal de Cultura.
Mas ela não se esquece de gente como Lauro Monteiro, Ivo Dall’Acqua Jr. Que, como presidente da Fundart, colocou a Semana Luiz Antonio no calendário oficial do município, de Marcelo Barbieri, de Gilsamara Moura, Euzania Andrade, Eloísa Michetti, Erlene Capaldo, Maria Lúcia Dinardi, Tista, entre tantos outros.
A Semana que hoje chega a sua 22ª edição foi entregue sob a responsabilidade de Jorge Okada. “A Semana chegou a ter eventos de apenas um dia, mas não morreu. Nunca deixou de ser feita. É o nascimento dele aqui na terra onde ele nasceu. Já o nascimento real dele, espiritual, é quando o Zé (Celso) presta uma homenagem para ele em São Paulo nos dias 23 e 24 de junho”.
(Publicado em 26 de julho de 2010)
Obrigada por ajudar a construir uma história sobre a Edna Portari. São poucos os relatos! Gratidão!
ResponderExcluirTão bom poder ler a história dessa pessoa fantástica que foi a Edna Portari. Minha vida não teria sido a mesma sem ela.
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