A jornalista Célia Pires, eclética profissional de imprensa, é a editora da coluna “Você faz a história”, que tem a finalidade de focalizar personagens da cidade. Habilidosa, colhe, em suas entrevistas, dados importantes que lhe permitem a elaboração de reportagens e histórias interessantes(J.Rufino)
sexta-feira, 28 de janeiro de 2011
Foto-João Ferraz
Didinho Haddad “Música é um diálogo com algo divino”
Como felizmente tenho minha atividade, posso me dar ao luxo da música ser uma coisa divina
Luiz Arnaldo Haddad é carinhosamente chamado de Didinho. Nasceu no dia 15 de abril de 1953. Além de empresário do ramo imobiliário (Chalú Imóveis) é musico e arranjador. Ele recebe nossa reportagem em seu cantinho sagrado, onde é o rei do castelo. Ali ele toca sua bateria, seu primeiro instrumento e, principalmente, teclado. O filho do senhor Chafik Haddad e da dona Odette, recentemente falecida, tem como irmãos Carlos Alberto (Beto); Alfredo (Doca); Celso, Maria Helena e a Maria Silvia. Na infância, até 1962, morava na Prudente de Moraes, entre a Rua Zero e adiante já era o Córrego da Servidão, que hoje está canalizado (Via Expressa). Didinho conta que o quarteirão praticamente era musical: na frente de casa morava o José Carlos Servino, o Sabauna (baterista); um pouco mais abaixo, a família Borges, onde o Américo Borges era pianista e tocava no bar do Monteiro, o Fiico, que também era músico. “Nós tínhamos na Rua Zero o Edmur, que hoje é músico profissional. Ali a gente começou a ouvir os ensaios do conjunto Américo. A molecada ficava louca, então desde cedinho a música já estava impregnada.” O irmão mais velho de Luiz Arnaldo, Carlos Alberto (Beto) começou a estudar violão. Ele ficava só de ‘botuca’. “Nunca estudei. Sou autodidata”, diz acrescentando que o irmão estudava, fazia a lição, mas que aquilo não era a dele. “Comecei a pegar o violão e a tocar de ouvido.” Um dos fatos mais marcantes na sua vida de menino foi, aos 13 anos, tocar no extinto Teatro Municipal. “Imagine: palco giratório, fosso para orquestra.” Ele se lembra que o pai Chafik entrou no passeio do teatro com um Chevrolet 58 e eles, os pequenos músicos, todos vestidos com uniforme confeccionado pelo proprietário da Camisaria Nino. “O grupo era formado pelo Beto Neves, tocava piano, hoje um médico muito competente; meu irmão Beto Haddad no contrabaixo, e eu na bateria. Por incrível que pareça desse grupo também fazia parte o Binho Volpe, que depois trabalhou na Globo, que morava ali no nosso quarteirão. Ele ensaiou, mas não chegou a tocar. Quem foi tocar no lugar dele nesse dia foi o Bruno Frigeri, o Bruninho, no afoxé, que depois foi Rei Momo durante vários anos em Araraquara. Tinha o Aníbal, que hoje toca no Sweety Memories, no violão, o finado Geraldo Neves Jr, também no violão, irmão do Beto Neves, menino que era gênio, mas tinha uma insuficiência respiratória e morreu muito novo.O dia que Geraldo tirava 9,5 era por que tinha acontecido alguma coisa”, sorri ao se lembrar. Na verdade, Didinho diz que o grupo era um sexteto . “A gente foi tocar bossa nova no meio dos cobras. Foi uma emoção inesquecível”, diz relembrando que um garoto tocar como gente grande ao lado de Marília Medaglia também foi demais!
O casamento
Seu orgulho e amor pela parceira Ângela é evidente, à flor da pele. Conta que era precoce. Casou com 18, 19 anos. Mas dos 13 aos 18 viveu intensamente. “O que ocorre com o pessoal que casa cedo é que não curte as farras, as madrugadas, enfim tudo. Não curtiram nada. Ai de repente se sentem aprisionados pelo casamento, querendo preencher um buraco. Isso não aconteceu comigo”, diz acrescentando que o casal vai completar 38 anos junto. O casal teve os filhos Daniel (falecido); Luciana, fisioterapeuta do Einstein; Mariana, que mora em San Diego e trabalha no Hotel Hilton; e a Juliana, administradora de empresas que trabalha na Chalú. “Temos um neto de 12 anos e um de 2 anos”. Didinho casou em janeiro de 72 e no mesmo ano, no mês de junho, o casal partiu para São Paulo à convite de Luiz Antônio Martinez Corrêa. Para Didinho, Luiz Martinez foi o maior diretor de teatro do Brasil e, que, infelizmente, foi assassinado muito jovem. “O Luiz era gênio e quando foi para São Paulo convidou a mim e a Paulinho Gehah, que não quis ir. Já casado e com a minha esposa Ângela grávida, fomos. Foi uma experiência boa, pois a Ângela estava grávida de nosso primeiro filho, que depois veio a falecer num acidente.” Trabalhar com o Luiz e seu irmão José Celso foi uma experiência inesquecível. Mas por conta de uns percalços o casal acabou se mudando para Bauru. Luiz Arnaldo acredita que talvez não era para seguir a vida artística, na época muito complicada. “Assim, seguimos a vida. Mas sempre com a música como parte integrante da vida. Tanto que ganhamos com um grupo de Bauru, chamado Paripasso, um festival no EEBA, com uma música do irmão do Lagartixa, o Flávio Carvalho Costa, que tem vários trabalhos sobre a memória de Araraquara.” Em Bauru ficaram durante três anos até que voltaram para Araraquara. Mas sempre com a música como parte integrante da vida.
Zé da Conceição
Ele se lembra com saudade do tempo em que diziam que o Bar do Pernambuco era frequentado por comunistas. Ali conheceu políticos como Zé Dirceu outros líderes estudantis que 12 anos depois, em 80, formaram o PT, Partido dos Trabalhadores. Didinho tocava muito com o Paulo Ferranti, que foi casado com a Vera Botta. “Quando o Zé da Conceição veio para a Araraquara, o pessoal do Clube Araraquarense praticamente o adotou. Isso numa época em que não aceitavam negros no clube. Nos chamaram para fazer parte de um conjunto que o Clube estava pensando em montar, inclusive iriam comprar os instrumentos. A bateria eu tinha e eles iriam complementar o restante dos instrumentos. Era o Paulinho Genah no piano, o Paulo Ferranti no baixo, o Zé da Conceição na guitarra e eu na bateria.” Nesse período, até chegar novamente a Araraquara, Didinho já havia trabalhado num posto de gasolina em Bauru que o pai havia montado, mas que por conta de incompatibilidade com um tio que era sócio acabou não dando certo. Assim ele e a esposa Ângela foram vender filtros para tirar cloro d’agua e até curso de inglês. Mas a música sempre como pano de fundo, inseparável. “Fui trabalhar na Vemara, do Gabriel Carneiro, como vendedor de carro. Na crise da gasolina eu tentando vender Maverick. Quem comprou acabou virando meu inimigo”, brinca, pois o carro ‘bebia’ muito. Como o sogro trabalhava na Tostines, queria levar Luiz Arnaldo para atuar como representante comercial na empresa. Mas era na mesma época que o Clube Araraquarense o estava convidando para montar o conjunto musical. “Não aceitei. E assim começamos a ensaiar. Os ensaios davam o maior ibope. Era só Bossa Nova.” Assim foi formado o quarteto e ficou combinado que quando não houvesse show no clube poderiam tocar onde quisessem, mas por atitudes do Zé da Conceição consideradas como abuso, o conjunto acabou nem se formando. “Meu sogro com seu sexto sentido não havia dito para o pessoal da Tostines que eu não havia aceito o convite. Assim acabou aquela aventura relâmpago. Trabalhei cinco anos na empresa como vendedor. Aprendi muito. Você já foi perseguido por um dono de mercearia com uma vassoura?”, pergunta rindo.
A Chalu
“Em 81 já existia a Chalu, com meu pai, o Doca meu irmão e mais um sócio. Depois de cinco anos sai da Tostines e fui para a Chalu.Ficava na arinha de fora, o Luiz falava vai fazer isso, vai fazer aquilo.” Num determinado momento o sócio da imobiliária, Luiz de Lazari Neto, quis sair da sociedade. O pai Chafik quase vendeu, mas Didinho o convenceu a não fazer isso. Decidiram continuar. “Assim, minha esposa Ângela veio trabalhar na Chalu e os irmãos também. A empresa tem 30 anos e faz 28 que estou lá, mas sempre a música me acompanhando.” Quanto à música, Luiz Arnaldo diz que gosta de gravar ao vivo. “Nunca fui um músico de ‘colar’ o disco. Não consegui estudar, pois não tinha disciplina. Tentei estudar com grandes pianistas, como Albane Sales, João Viviani. Sou um músico intuitivo formado dentro dessa concepção. Mas faz falta algo porque pintam idéias e eu não sei escrever.” Didinho tocou com muita gente boa como Ailton, trompetista, Jussara Vargas, Serginho Sanches, Sueli Vargas, Paulo Arcângelo, Marcos Volpe, Maria do Rosário, Valdirene e sua irmã, Silvinha Haddad, entre outros. Gravou muito pouco, mas agora vai se dar ao prazer de gravar. “Vou me dedicar a isso”.
(Publicado em 13de dezewmbro de 2009)
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